Direção: Halina Reijn
O que faz uma mulher poderosa, a CEO de uma empresa de tecnologia, se comportar como uma garotinha? Bancar a Donzela em Perigo? Tomar a atitude virginal de beber um copo de leite num gole só, unindo submissão a inocência e uma certa malícia?
Babygirl. Fazia tempo que uma obra concebida a partir do female gaze não chegava aos cinemas, trazendo o erotismo, o desejo e a libertação das amarras impostas pela sociedade na premissa poderosa - mas que poderia resultar em algo vazio, que apenas servisse de chamariz, se não fosse trabalhado com profundidade pela diretora Halina Reijn e a estrela Nicole Kidman.
Encenado sob o olhar feminino, este é um filme sobre controle, desejo, paixão, poder e perdão, com uma performance arrebatadora de Nicole Kidman e, no entanto, vulnerável (no colo de sua figura paterna), pedindo a ele que a proteja e ele respondendo que “tudo que queria era fazer os olhos azuis da gata brilharem”. Romy Mathews, papel de Nicole, se envolve num jogo de sedução e humilhação com Samuel (Harris Dickinson, destemido), o novo estagiário da sua companhia.
Pelo olhar despido de preconceitos de Reijn, a visão pudica ou deturpada da sexualidade feminina dá lugar a uma exploração satisfatória dos anseios, da necessidade de gozo de Romy, que desde a primeira cena não consegue se satisfazer no casamento com o diretor teatral Jacob (e olha que o marido é vivido pelo Antonio Banderas). Notadamente uma she-Wolf no mundo corporativo, ela vislumbra Samuel domesticando uma cachorra, que havia se soltado da coleira, na rua. E ali nasce um fascínio ou uma necessidade de ser aquele animal dominado.
Ao som de pérolas do cancioneiro pop, cheias de sex appeal - Never Tear Us Apart/Inxs e Father Figure/George Michael - Romy e Samuel vão tendo encontros furtivos pelos cantos do prédio empresarial ou em hotéis espalhados pelos melhores e piores lugares de NY. A nudez de Nicole Kidman está lá, sem disfarces mas o corpo que está sendo objetificado é o de Harris Dickinson, com toda a sua altura, magreza, tatuagens e languidez. Numa concepção oposta ao dos thrillers ou dramas eróticos de Louis Malle, André Téchiné ou Adrian Lyne, pelas mãos de Reijn e pelos olhos de Nicole, o gozo transborda nos frames de Babygirl.
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